Uma das séries de números mais famosas da história, a sequência de Fibonacci, foi publicada por Leonardo de Pisa em 1202 no "Liber Abaci", o "Livro do Cálculo". A famosa sucessão de números ficou conhecida como o "código secreto da natureza" e pode ser vista no mundo natural em diversos casos. Mas, afinal, como essa sequência se relaciona com a arquitetura?
Leonardo de Pisa, mais conhecido como Fibonacci, escreveu sua série de números (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233...) para resolver um problema hipotético de reprodução de coelhos no seu Livro do Cálculo. Em seu conteúdo, o fundamental está em saber que qualquer que seja o número na sequência, ele é resultado da soma dos dois anteriores. Por exemplo: 2 + 3 = 5, 5 + 3 = 8, etc. Esta constante cria uma relação muito próxima com o número de ouro (1,61803399), chamado de proporção áurea, que representa matematicamente a "perfeição da natureza". Afinal, ao dividir um número da sequência de Fibonacci por seu anterior, o resultado será cada vez mais próximo de 1,618. Quanto maiores os números escolhidos, mais o resultado se aproxima da proporção áurea.
A Antiguidade já estudava essa proporção dada pelo número de ouro e a aplicava em suas construções e obras artísticas, pois dizia-se que ela possui a característica de ser naturalmente agradável ao olho humano. Por isso, pode ser verificada em diversas obras de arquitetura como o Partenon - no qual a largura e a altura da fachada seguem a proporção áurea -, nas Pirâmides do Egito - nas quais cada bloco é 1,618 vezes maior que o bloco do nível imediatamente acima e, em algumas delas, as câmaras internas têm comprimento 1,618 vezes maior que sua largura -, e até mesmo no Taj Mahal - que alguns teóricos relacionam seu projeto com a proporção de ouro.
Essas relações de proporções trazem diversas leituras possíveis em como a escala da arquitetura e o modo como se projeta um edifício é dada até mesmo de forma inconsciente pela sequência de Fibonacci, pois uma das atribuições de um edifício realizado por um arquiteto é que ele seja bonito, prazeroso aos olhos: qualidade gerada pela proporção dada por essa série matemática.
Mais do que isso, essa sequência de números pode ser encontrada em diversas espécies da natureza - do caramujo ao girassol, em seus exemplos mais clássicos -, e também está presente no corpo humano como demonstra o Modulor, uma das publicações mais famosas de Le Corbusier. Lançado e revisado em meados do século XX, este estudo demonstra o esforço de um dos arquitetos mais famosos da história em encontrar a relação matemática entre as medidas do homem com a natureza. Ao se debruçar sobre as investigações que tanto Vitrúvio quanto Da Vinci fizeram, o arquiteto francês apresentou um sistema de medidas em escala humana a partir da proporção áurea. Composto por três medidas principais, o modelo final do Modulor chega a um corpo humano que se divide em três intervalos que geram uma seção áurea: um homem com 1,83 m, que com o braço levantado ficaria com 2,26 m e a altura do umbigo, que é a metade, equivaleria a 1,13 m.
Hoje, felizmente, a discussão sobre padronização e universalização do corpo humano já está muito mais avançada e não se rende apenas a fatores matemáticos. Além disso, muitos matemáticos e designers já questionam o fato da proporção áurea ser uma fórmula universal da beleza estética. Segundo Keith Devlin, matemático britânico e especialista no assunto, todas as teorias que abrangem os apelos estéticos de acordo com essa constante existem apenas pois nós humanos somos bons em reconhecer padrões e ignoramos tudo aquilo que os contrariam. Em suma, trata-se de um debate que permanecerá constante, afinal não bastam apenas dados científicos para traduzir o que é belo - sendo essa noção subjetiva e criada de acordo com as próprias referências e culturas de uma pessoa. No entanto, é fato que a proporção áurea foi de fundamental importância para o setor cultural e na construção de um senso estético, principalmente no ocidente. Além disso, vale dizer que não foi nesse lado do globo que a sequência de Fibonacci foi escrita pela primeira vez, ela já havia aparecido num livro sobre métrica escrito pelo matemático indiano Pingala, entre 450-200 aC., demonstrando que as fontes de beleza e sabedoria vão além do berço europeu.
Fontes: BBC News Brasil, Super Interessante
Publicado originalmente em 4 janeiro de 2022, atualizado em 6 de dezembro de 2022.